quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Análise CD "Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa" - Emicida

Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa é um disco ousado. Diria até que é um álbum arriscado. Emicida falou da cultura negra de uma forma que só ele seria capaz de fazer. Neste trabalho o rapper continua com o peso de sempre, agora, é perceptível que o "poeta das ruas" não perdeu nada do seu dialeto rico e sábio para passar uma mensagem realista para seus ouvintes. Mãe abre o disco de forma magistral. O cantor faz uma homenagem a sua mãe e a muitas mães que criaram seus filhos sozinhas e com dignidade. É a minha favorita do disco. 

“Mãe é uma emocionante homenagem à batalhadora mãe do moço, Dona Jacira, que até dá uma palhinha no final da música. A música pode ser tida como uma continuação de “Crisântemo”, do primeiro álbum, também autobiográfica, mas que conta a história do pai de Emicida, Miguel, que morreu ainda na infância do rapper. " [1]

8 vem em seguida com um tom de manifesto e contando a realidade (lamentável) racista que vivemos em nosso país. Emicida aproveita e homenageia os professores agredidos pela polícia no Paraná com o trecho "...jogando na retranca querendo que os menó respeita / os professô que a polícia espanca".

Casa traz as crianças para o coro e reforça a ideia de correr atrás dos sonhos e vencer as dificuldades, pois são muitas e, o principal: "nunca se esqueça o caminho de casa". Amoras é o primeiro interlúdio do disco sendo uma canção para a filhinha do Emicida. Citando Martin Luther King, Zumbi e Malcolm X, o compositor recita uma poesia de orgulho negro e amor pela cultura desde a infância. Mufete é a mais africana do disco e que reflete um pouco a fase que o Emicida passou na África. 

A frente temos duas grandes participações especiais: Caetano Veloso em Baiana e Vanessa da Mata em Passarinhos. A primeira é uma MPB bem divertida e que enaltece a mulher negra. A segunda é um reggae bem embalado com a linda voz da Vanessa. Sodade é o segundo interlúdio do disco com uma língua africana quase em forma de oração. Chapa fala de um amigo que foi embora e deixou amigos e familiares com muita saudade. Boa Esperança foi o primeiro single do álbum e embalado de um clipe que rapidamente rodou o Brasil.

"O clipe da inédita "Boa Esperança" reforçava esse rumo ao apresentar um cenário de guerra civil começando de dentro das casas, quando empregados de uma mansão pegam seus patrões como reféns depois de serem humilhados durante o trabalho. O nome da música foi tirado de um dos irônicos nomes dos navios negreiros que traziam africanos para a América. Para dirigir o clipe, o rapper chamou João Wainer (do filme "Junho" e repórter especial da Folha) e Kátia Lund (de "Cidade de Deus"). Tudo indicava que o novo álbum viesse com sangue nos olhos." [2]

A música rema contra o racismo e tem um peso do nível de sua letra. Ainda teve a participação do J. Ghetto. Trabalhadores do Brasil é uma pequena poesia recitada por Marcelino Freire e o terceiro e o último interlúdio do disco. Mandume é a mais pesada e uma das melhores do disco e, também é a que tem mais participações: Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e Raphao Alaafin. Madagascar é agradável e cheia de poesias. Salve Black (Estilo Livre) fecha o álbum no melhor estilo samba. 

SCQPLC é um álbum que merece ser ouvido com atenção e respeito pois é a cultura negra sendo representada. Para mim, um dos melhores lançamentos neste ano. 


[1] http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2015/08/24/resenha-emicida-sobre-criancas-quadris-pesadelos-e-licoes-de-casa/

[2] http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/08/1665346-emicida-combate-o-racismo-com-novo-album-pra-cima.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário