quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A existência não faz sentido

Reinos, Filos, Classes, Ordens, Famílias, Gêneros, Espécies. Um amontoado de células em divisão. Um conjunto de átomos que sabe lá Deus como interagem entre si. Como sabemos se algo existe? Seria afirmando se pode pegar nessa coisa? Tanta gente crê que coisas que não vemos existem. Mas, mais do que definir se isso ou aquilo existe, como definir existência? Seria isso uma pessoa? Um ser? Uma energia? Ou, ao menos, faz sentido pensar em tentar definir o que seria existência?
Não, não faz. A existência, em si, não faz sentido. E vou explicar-lhes o que penso a respeito.
"Ora, a existência é uma plataforma. É um sistema operacional. É um chão."

Responda para você mesmo.
Pra que serve a plataforma do trem, se não para que as pessoas passem por ela entrando e saindo do trem e da estação? Ela é muito importante, porém ela em si não é finalidade, certo? O que conta é que o trem tem um destino, e um grupo de gente vai nele e cada um traça seu caminho -- e sobre caminho e objetivo final a gente conversou semana passada. (se não leu, vale a pena dar uma lidinha depois).
Ou pra que servem os sistemas operacionais (tipo Windows, Linux, iOS, Android, etc), se não para rodarmos aplicações em cima deles? Ora, eles são a base para cada usuário traçar seu rumo computacional, instalando os softwares e realizando as configurações e personalizações desejados, para deixar tudo com a cara do usuário, não é? Agora olha só: personalização. Cada um tem sua personalidade. Cada um tem suas ideias, seus gostos, suas preferências. Um S.O. pode ficar a cara do seu usuário, desde que bem configurado. Mas um S.O. é apenas um amontoado de códigos, uma máquina, uma coisa automatizada e fria. Ele só fica personalizado se houverem rastros de uma personalidade -- que veio de um usuário -- impregnados nele!
Pra que serve o chão que você pisa? Serve para algo se não tiver nada sobre ele? Seria apenas um deserto. Ok, ok, cientificamente, desertos tem sua contribuição para o mundo em diversos âmbitos, mas para eu e você, que amamos olhar para nosso umbigo, um deserto não serve para muita coisa. Um chão vazio também não.
E pra que serve aquela folha de papel em branco que você contemplou outro dia querendo fazer algo, mas não soube exatamente o quê? Podes pegar lápis, caneta, carvão, tintas e pincéis, ou mesmo apenas dobrá-lo. Mas o papel sozinho é apenas um papel. Restos de celulose.

E o que o título tem a ver com essas metáforas? Ora, a existência é uma plataforma. É um sistema operacional. É um chão. É um papel em branco. Ela é a base pra que tudo exista (dãã, não me diga). Sem a Existência (com E maiúsculo porque aqui trato de uma Entidade, talvez como um ser, uma pessoa) não existiria nada do que vemos existir hoje. Então com o passar dos milhões e milhões de anos, as criaturas foram nascendo, crescendo, se multiplicando.

(Olha só uma coisa, perceba a criatividade de quem/o que você acha que foi a fonte de tudo o que vemos nesse planeta: não poderíamos ser criaturas simples nos alimentando de, sei lá, uma massa cinzenta que garantiria o mínimo de sobrevivência à nossa espécie? Bem, poderia haver essa possibilidade, sim. Mas o que nós temos? Temos uma explosão de cores, tamanhos, formas geométricas, organizações no espaço, organelas celulares, equações matemáticas, personalidades, nomes e apelidos e habilidades e características...)

Pergunto novamente: o que o título tem a ver com isso? Respondo com mais uma metáfora.
Sabe quando um garotinho pega um carrinho e joga ele de um lado a outro da sala no chão? Bem, é só um carrinho, dizemos nós, adultos chatos e carrancudos. Mas pro garoto, o chão é uma grande pista de corrida. O carro é a melhor máquina da cidade, com o ronco mais alto, a maior potência, e dentro do carrinho tem o melhor motorista -- que por sinal é o próprio garoto. Ou sabe quando uma garotinha tem umas duas ou três bonecas com cabelo desarrumado, uma casinha de boneca com portas e janelas faltando (provavelmente seu irmãozinho fez o favor de perdê-las) e aí ela começa a imaginar um extenso diálogo e ações e passeios -- e compras -- pras bonecas? Olha que bonitinho, ela tá inventando historinha, dizemos nós, adultos enfadonhos e enfadantes. Mas pra garotinha, a casinha é uma mansão em Bervely Hills, as bonecas são melhores amigas que fazem tudo juntas (e por sinal uma delas é a própria garotinha) e o visual delas está sempre arrumado. Cabelo, roupas, perfume, maquiagem, tudo intocável.

Ah... plataformas são apenas passagens. Sistemas operacionais sozinhos apenas desperdiçam energia. Chãos... são chãos. Casinhas de bonecas só são pedaços de plástico. Folhas de papel em branco apenas apontam para uma interrogação na mente. Sozinhos, eles não são nada.


Lenine apontou o caminho das pedras, um outro dia. Cunhou uma grande frase: "a vida é tão rara". É sim, meu caro. Existir é muito fácil. Viver é pra poucos.
Então concluo: a existência não faz sentido em si, sabe por quê? Porque ela é apenas uma base pra indivíduos, como eu e você, desfrutarmos dela! Entenda que a existência não é inútil. Apenas que ela, sozinha, não adianta. Afinal, o fôlego que foi soprado em nossas narinas e a renovação que temos a cada manhã, ao acordar e perceber que ainda existimos, é o que faz a máquina biológica de cada um de nós continuar funcionando e gerar vida. A existência só tem sentido quando você dá sentido a ela. A existência só se torna vida quando você faz dela vida. Só quando você traça objetivos, faz planejamentos, projeta o futuro, brinca com o passado e aproveita o presente. É quando você se entrega a uma causa e vive em função dela. A começar justamente com o exemplo desse Criador de todas as coisas, que foi altamente criativo e deixou rastros de sua personalidade inteligente, sábia, criativa e detalhista por toda parte! Ele tomou a existência, jogou toda sua experiência através dela, e saiu a vida. E que vida!

Eu não queria apelar pra vaidade do caro leitor, mas pense: quais são os indivíduos que são lembrados (positivamente) através das gerações? São aqueles que apenas deixaram sua existência passar diante de seu nariz? Ou foram os que tomaram as rédeas e realmente viveram e deixaram viver, que fizeram valer toda a capacidade do ser humano de ser incrível?

Quando você toma a plataforma e faz dela o caminho pra ter o melhor dia da sua vida.
Quando você instala o software que vai resolver o seu maior problema atual.
Quando você põe uma mesa aqui, uns vasos de flores ali, móveis alinhados e agora o chão não é só um vazio, mas embeleza a casa.
Quando o pedaço de papel vira um avião que voa longe, longe... ou quando vira um mar azul, um céu nublado, uma bonita árvore, um castelo forte, ou uma crônica ou poesia que encanta.

Existência + Experiência = Vida.

Pergunte pras crianças. Elas sabem.

E você aí, com uma mão apoiada no queixo e a outra sobre o mouse?
O que te faz viver?
O que te faz querer mais um dia?
O que te faz ir além de apenas existir?


Tanlan - "Um Dia a Mais"

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