segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Análise: CD "Battle Studies" - John Mayer

ATENÇÃO: Esse post contém altas quantidades de melosidade, depressões e fanboyzisse. E ficou longo pra cacete. Estão todos convidados a ler e depois ler de novo, exatamente por isso :D

Links das análises anteriores: Room For Squares | Heavier Things | Continuum

2009. 
Premiações. 
Turnê do Continuum bem-sucedida. 
Um incrível DVD - que ainda hoje é um marco na carreira - chamado Where The Light Is, e a turnê do WTLI ainda mais bem-sucedida.

O que ainda falta? Como superar essa ascendente? O primeiro álbum rendeu Grammy, o segundo também, o terceiro também! Ao que parece, chegou no auge. Como fazer desse auge uma nova escalada, e não uma queda?

Essas questões foram respondidas durante um período de seis meses na própria casa do Mayer em Los Angeles. Ele e (o mito) Steve Jordan produziram o novo álbum. John relata que ele se pressionou bastante, ele sabia que a última turnê foi um ponto altíssimo. Ele sabia que superar aquilo não seria fácil. Começou a escrever loucamente, como quem conversa consigo próprio "cara, você é um grande artista, um grande compositor. Escreve, caramba!". Meio complicado, né? Pois é. A pressa é inimiga da perfeição, mas seis meses não seriam tanta pressa assim. E não foram! Dito isso, seis meses escrevendo entre 20~30 letras e gravando as respectivas demos é meio cansativo, ainda mais quando você precisa descartar tantas delas em detrimento de outras pra fechar o álbum em definitivo. Mal sabia John o que estava por vir.

Enfim. O álbum foi a resposta positiva esperada? Isso só você pode dizer, caro leitor. Mas em minha opinião: sim e não. (obrigado, idiota, não me ajudou em nada). Ok, eu gosto bastante do Battle Studies. John atingiu o auge como artista, no sentido de produção. Eu falei do DVD né? Pois bem, John nunca mais cantou e tocou igual aquela noite, ele tava pegando fogo, bicho (~faustão mode on~), e imagino que a turnê foi tão perfeitinha quanto o DVD. Daí fica o desafio de continuar esse legado em estúdio, como eu mesmo me perguntei muito "o que seria se John conseguisse passar essa atitude e essa produção pra um trabalho em estúdio", e bem, não dá. John é um monstro ao vivo, sem mais, e passar isso pra gravação de estúdio é muito complicado. Porém, o Battle Studies acabou sendo, de longe, a obra mais redondinha, mais pop, e a presença de Steve Jordan contribuiu bastante. Steve é um mito da bateria! Quem tem um ouvido "com mais memória" percebe que o timbre da bateria e as batidas são diferentes, são únicas. O álbum Try!, do John Mayer Trio, é prova disso. E essa batera fez diferença no álbum. As guitarras, o baixo de Pino Palladino (outro mito), Ian McLagan nos teclados/samplers, etc e tal, tudo bem encaixado nessa obra de 2009. 

Porém, as letras... se você desconsiderar os trabalhos posteriores, pode-se dizer que "oh, John apenas quis escrever sobre outras coisas", mas eu ouvi o Battle Studies antes de ler "certas revistas" e ouvir os álbuns seguintes e achei as letras esquisitas. Digo... não achei ruim, não MESMO, apenas parece que havia algum problema. Ele não estava bem. As músicas doem na alma, tipo, demais. E John sempre se entrega nas composições, ele raramente põe uma máscara como se fosse somente um observador externo falando de algo aqui ou ali, ele sempre põe algo dele. "Ah, mas todo mundo faz isso" sim, e ele também, ué kkkkkk. Na verdade eu acho que é por isso que costumo dar 10 pras letras dele, porque são tão pessoais que acabam sendo bem humanas, e a gente se identifica com as canções dele assim. Então, ele se colocando tanto nas músicas, e as músicas falando tanto de dores e problemas, provavelmente ele não tava tão bem...

Bem, o fato é que (agora falando depois de ter visto os fatos acontecerem) ele tava num período louco, complicado amorosamente, um pouco soberbo e à beira do abismo - internamente. Isso só piorou com o tempo. Ele tava meio down e isso se refletiu nas composições e até nos shows - Red Rocks 2010 foi um grande exemplo, ele tava doidão, rs. A mídia, pra não ajudar, fez uma pressão desgraçada nele, e acabou dando merda, como as "certas revistas" citadas e muitas outras matérias na TV e internet. Mas isso já são fatos pós-álbum, o interessante é apenas perceber como se deu essa sequência de dominós caindo.

Capa do álbum "Battle Studies" do John Mayer


Vamos à análise faixa por faixa, que vocês vão entender o que falo... eu espero...

Heartbreak Warfare: Essa canção fala de duas pessoas que se gostam mas estão em pé de guerra. Ao que me parece, ao fim da música o problema não é resolvido. Quer dizer, o CD já começa difícil de digerir. A música em si é bem legal, um pop tranquilo, a bateria começa já aqui a mostrar a cara diferente. E essa faixa gerou a ideia de um símbolo, um coração com um relâmpago no meio.
All We Ever do is Say Goodbye: Um violão numa introdução lenta e uma voz triste. O personagem procura esquecer uma pessoa amada e quando consegue, sua voz ecoa na cabeça. E vai atrás dela, sem sucesso: ela não está lá quando ele chega. Ele a ama mas por mais que não queira ele corre atrás do passado belo que (provavelmente) tiveram, já sabendo que vai quebrar a cara e o coração. Putz John, pare com isso, não quero suar tanto assim pelos olhos. Até o solo de guitarra parece doer na alma, um choro de dentro do peito. Ai.
Half of My Heart: Aqui é uma letra interessante. O personagem é dividido por dentro (daí o nome da música) como uma pessoa que gosta de alguém mas que ao mesmo tempo sabe que vai dar merda. Então fica em cima do muro e prolongando essa dúvida. A música é um country-pop-rock (isso existe?) bem tranquila, e tem a participação de Taylor Swift nos vocais, o que pra mim não é uma mera participação... eles eram namoradinhos, e curiosamente John é um cara bem "Half of my heart" (basta analisar outros relacionamentos dele), o que acabou dando merda depois. Até hoje rola uns mimimis entre fãs de Taylor e John, especialmente depois dos lançamentos de "Dear John" dela e "Paper Doll" dele, mas isso é oooooutra história.

Oh, half of my heart's got a grip on the situation
Half of my heart takes time
Half of my heart's got the right mind to tell you
That I can't keep loving you
Oh, with half of my heart...

Who Says: A música fala sobre endoidar. Isso mesmo. "Who says I can't get stoned?". É, ao mesmo tempo, sobre ser livre e fazer as merda que se quiser fazer, mas no sentido de se libertar da pressão do mundo ao redor. Acho que é uma letra bem pessoal, considerando os fatos sobre ele que eu já citei. Inclusive há uma referência... outro dia, durante a produção desse álbum, ele disse no Twitter que ia pro Japão viajar sozinho (e nem foi), e acabou botando isso na letra. A música em si lembra Stop This Train e segue a mesma linha melódica tranquila, um solo de piano, o violão dedilhado, etc.
Perfectly Lonely: Essa é das minhas favoritas, é uma exaltação à solteirice. Essa é direta, sem arrudeios, nem muitas dores internas (talvez!). A introdução já anima e a música não decepciona. 
Assassin: Outra que eu curto bastante. Aqui é uma história, uma metáfora de um cara que invade sorrateiramente uma casa pra assassinar uma pessoa e acaba se apaixonando, e percebe que acabou sendo pego numa armadilha, pois a pessoa também era uma assassina. Não vou explicar essa metáfora =P A música é um pop rock legal, também animadora, até sensual eu diria.
Crossroads: John faz uma reedição do clássico do Cream/Eric Clapton. Eu particularmente sou um cultuador do blues, então torço um pouco o nariz pra essa reedição, que logicamente tem uma cara mais pop e menos blues. Mas não posso negar que é bem feita. Um fuzz na guitarra, uma batida meio funk-soul, ok. A ideia dela estar aqui, eu não penso que seja apenas um cover, mas tem uma ligação com o que virá a seguir...

I went down to the crossroads
Fell down on my knees
Asked the Lord above for mercy
"Help me if you please!"

War Of My Life: "Que venham os anjos, os fantasmas, a escuridão e seus amiguinhos, podem vir porque não tenho medo de nenhum de vocês." A primeira estrofe é tipo isso. A parte musical pode parecer meio sem sal (e eu acho que é), mas o foco realmente é a letra. Com essa canção, voltamos a descer o barranco, quero dizer, ela é bem introspectiva, pessoal, profunda, e trata de ser posto contra a parede e enfrentar seus medos da forma mais cara-a-cara possível. Sem medo do passado e temendo/tremendo pelo futuro. Esperando pelo inevitável quando a vida acaba parando numa encruzilhada (que em inglês é... crossroad, sacou?). Ele é um cara frágil (como dizem os versos "I got a hammer and a heart of glass") e luta contra ele mesmo. É interessante ainda notar o verso "I got a pocket, got no pills", pois ele tinha/tem Transtorno de Ansiedade e sempre andava com uns comprimidos no bolso pra quando tivesse crises.
Edge of Desire: Essa e a anterior pra mim são o fundo do poço. E as melhores canções do álbum. E as mais humanas. Caramba! Se War Of My Life trata de lutar contra si, Edge of Desire é pra mim a maior expressão da dor de um amante perdido. Tipo, perdidaço. Quando eu falei que era o fundo do poço, é porque tanto é uma "fossa" como é profunda pra cacilda. Na boa. Não quero analisar verso por verso pra não ficar imenso (mais do que já tá), então resumirei...
Ele é um cara novo, mas tá infinitamente andando em círculos nos relacionamentos e tá cansado de amar. Essa merda chamada amor só serve pra ter um sonho legal e depois acordar no meio da noite sozinho. Ele ama uma mulher, se entrega pra ela, mas depois parece que não funciona, e não necessariamente por culpa dela. Ainda assim ele a deseja ardentemente, dolorosamente, tanto que seria até capaz de abandonar seus conceitos, sua moral, seus sonhos, seus valores, tudo (acho que muitos já passaram por isso, pelo menos internamente), e tá no limite da vontade, tá "subindo pelas paredes" quase tocando fogo em tudo. Ele deita e dorme e sonha com ela ao seu lado, ao mesmo tempo que morre por dentro e tá cansado disso tudo e prevendo que vai se quebrar todo se começar de novo. É uma contradição, um paradoxo, e isso dói pra caramba. Dito isso, ele tem um medo do caramba de que ela o esqueça de vez (aquele tipo de sensação de que não é fácil deixar alguém ir depois de se separar, porque você ainda se sente ligado àquela pessoa, e pode doer até pra quem teve a iniciativa de terminar).

Love is really nothing
But a dream that keeps waking me
For all of my trying
We still end up dying
How can it be?

É imensa, não? Nem é, a letra é pequena. Ele conseguiu condensar isso tudo em poucos versos. Que incrível. Pra completar, ela é modafocamente difícil de tocar e cantar; John fez um riff a partir de um estudo dele de guitarra no quarto, e quando começou a tentar tocar e cantar ele mesmo não conseguia. Demorou até dominar essa música. E acho que lavou a alma quando conseguiu, pois pôde se expressar ao vivo pra galera nos palcos da vida.

Ufa.

Do You Know Me: Essa é mais simples, pra aliviar a tensão das anteriores. Aqui tem poucos versos, é uma canção curta e tranquilinha, e já não é tão fácil de entender o que significa. Eu creio que seja sobre almas-gêmeas, no sentido de amor à primeira vista. Meio tipo "eu te conheço de algum lugar", sem ser sacana ou uma cantada barata. É uma canção fofinha, e paro por aqui,
Friends, Lovers or Nothing: Encerrando o álbum em grande estilo. Um fato interessante é que essa música é uma junção de duas: a que tem esse nome mesmo, e uma chamada The Hurt (olha a depressão amorosa aí de novo), que era um outtake, uma das tantas que ele compôs e não entrou no álbum, mas que ele "colou" no final dessa música e casou bem, na verdade. Do que se trata? Aqui, há uma situação onde duas pessoas terminaram e uma quer seguir adiante, mas a outra ainda quer ser um amigo que é mais que amigo, tipo amizade colorida, pra relembrar os "bons momentos" e curtir um pouco. E a primeira pessoa resiste, pois sabe que pode até cair no jogo mas depois vai pular fora do barco de novo e machucar a si e a outra pessoa (e isso porque a outra pessoa insistiu). Isso fora quando vem os ciúmes, discussões, expectativas, decepções e tudo o mais que aparece quando amor não é suficiente numa relação. Então ele dá um ultimato: amiguinhos, amantes ou p*rra nenhuma. Não rola ser um "intermediário". Se decida, por favor, que eu não quero mais confundir as coisas.

Friends, lovers, or nothing
There can only be one
Friends, lovers, or nothing
There'll never be an in between
So give it up
[...]
Anything other than a yes is no
Anything other than stayin' is go
Anything less than I love you is lying


  • Letras: 10
  • Produção: 10
  • Projeto Gráfico: 8
  • Interpretação: 10


Um comentário:

  1. Parabéns pela análise Phil! Estou acompanhando desde quando saiu a primeira. Imagino que esteja ocupado, mas não espero a hora de sair a análise do "Born And Raised".

    Um grande abraço!

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